sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Vinte Poemas de Amor


... Posso escrever os versos mais tristes esta noite,

Escrever por exemplo:

"A noite está estrelada e tiritam, azuis, os astros ao longe."

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Eu a amei, e às vezes ela também me amou.

Em noites como esta eu a tive entre meus braços.
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito.

Ela me amou, e às vezes eu também a amava.
Como não ter amado os seus grandes olhos fixos?

Posso escrever os versos mais tristes esta noite.
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.

Ouvir a noite imensa, mais imensa, sem ela.
E o verso cai na alma como no pasto o orvalho.

Que importa que o meu amor não pudesse guardá-la?
A noite está estrelada e ela não está comigo.

Como para aproxima-la meu olhar a procura.
Meu coração a procura, e ela não está comigo.

A mesma noite que faz branquear as mesmas árvores.
Nós, os de então, já não somos mais os mesmos.

Já não a amo, é verdade, mas quanto a amei.
Minha voz procura o vento para tocar-lhe o ouvido.

De outro. Será de outro. Como antes de meus beijos.
Sua voz, seu corpo claro, seus olhos infinitos.

Já não o amo, é verdade, mas talvez a ame.
É tão curto o amor, e é tão longo o esquecimento.

Porque em noites como esta eu a tive entre meus braços,
a minha alma não se contenta como tê-la perdido.

Ainda que esta seja a última dor que ela me causa,
e estes sejam os últimos versos que lhe escrevo.

(Pablo Neruda)

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