terça-feira, 27 de abril de 2010

Funeral Blues




"Pare os relógios, cale o telefone
Evite o latido do cão com um osso
Emudeça o piano e que o tambor surdo anuncie
a vinda do caixão, seguido pelo cortejo
Que os aviões voem em círculos, gemendo
e que escrevam no céu o anúncio: ele morreu
Ponham laços pretos nos pescoços brancos das pombas de rua
e que guardas de trânsito usem finas luvas de breu

Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste
Meus dias úteis, meus finais-de-semana,
meu meio-dia, meia-noite, minha fala e meu canto
Eu pensava que o amor era eterno; estava errado

As estrelas não são mais neessárias;
apague-as uma por uma
Guarda a lua, dismonte o sol
Despeje o mar e livre-se da floresta
pois nada mais poderá ser bom como antes era"
(W. H. Audin)
Um dos momentos mais emocionantes do filme "Quatro Casamentos e Um Funeral" acontece quando se recita este poema de W H. Audin. Aliás, o livro "Another Time", deste autor irlandês, esgotou várias edições logo após o sucesso do filme.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Álvaro de Campos (Heterónimo de Fernando Pessoa)



Todas as cartas de amor são Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas.
(Álvaro de Campos)

Carta (II) de Alexander Pope para Lady Mary Wortley Montagu


Para Lady Mary Wortley Montagu, depois do regresso a Inglaterra, 1719
Possa estar morto ou vós em Yorkshire, porque estarei melhor por vos saber na cidade. Estou doente desde a última vez que vos vi, e agora tenho a cara inchada, e sinto-me muito mal; nada me fará melhor do que ver a querida Lady Mary; quando vierdes para estes lados deixai-me ver-vos, porque em verdade vos amo.

Carta de Alexander Pope para Lady Mary Wortley Montagu


Para Lady Mary Wortley Montagu, Junho de 1717

Senhora,

Se o viver na memória dos outros tem alguma coisa de desejável, é o que tendes, no que me toca, no mais elevado sentido das palavras.

Não há um só dia em que a vossa imagem me não visite; as vossas palavras regressam ao meu pensamento e cada instante, lugar ou ocasião em que me deleitei nelas são vivamente pintados com uma imaginação igualmente afogueada e terna que as possa representar.

Dizeis-me que o prazer de estar perto do sol melhora muito a vossa saúde e ânimo. Vós haveis levado a minha afeição tão para leste que quase posso ser um dos vossos adoradores, porque penso que o sol tem mais razão em se sentir orgulhoso em elevar o vosso ânimo, do que alimentar as plantas e amadurecer todos os minerais da terra.

É minha opinião que um homem sensato possa viajar de boa vontade três ou quatro mil léguas para ver a vossa natureza, e a vossa inteligência, em toda a sua perfeição. O que não imaginar de alguém que viajou pela mais perfeita parte do mundo, e que pelo sol melhora a cada dia na outra! Se vós não escreveis agora contando as melhores coisas imagináveis, podeis dar-vos por satisfeita por ser envolvida pela mesma imputação que o resto do Levante, e concluir que vos haveis abandonado a extremos de efeminação, preguiça e sensualidade da vida...

Por favor, senhora, escrevei-me o mais que puderdes, confiando que não há homem mais sôfrego ou mais ansiosamente atencioso de vós. Dizei-me que estais bem, dizei-me que o vosso filhinho está bem, dizei-me que o mesmo o vosso cão (se tiverdes um) está bem. Não me defraudeis de nenhuma coisa que vos agrade, porque o que quer que seja, agradar-me-á mais do que qualquer outra coisa. Sempre vosso.

Carta de Alexander Pope para Martha Blount

Para Martha Blount, 1714

Mui Divina,

É prova de alguma sinceridade para consigo que escrevo enquanto bebendo, e me disponho a falar verdade; e uma carta depois da meia-noite abunda nesse nobre ingrediente. Que o coração deva abundar em chamas, o mesmo tempo aquecido pelo vinho e por si: o vinho acorda e exprime as paixões latentes da mente, tal como o verniz faz às cores escondidas num quadro, e mostra-as no seu brilh natural. As minhas boas qualidades estiveram tão congeladas e fechadas numa constituição apagada nas minhas horas sóbrias, que é muito espantoso, agora que estou ébrio, encontrar em mim tanta virtude.
Neste extravasar do meu coração agradeço-lhe as duas cartas com que me brindou em 18 e 24 deste mês. Aquela que xomeçava com "Meu encantador Sr.Pope" era uma maravilha para além de toda a expressão; vós me conquistastes inteiramente por fim, à vossa encantadora irmã. É verdade que não sois bela, para mulher, penso que não: mas este bom humor e esta ternura são para mim de um charme irresistível. Essa face é irresistível quando adornada pelos vossos sorrisos, mesmo que não veja a coroação! [de Jorge I, em Setembro de 1714]. Suponho que não mostrareis esta carta por vaidade, tal como não duvido que a vossa irmã o faça quando lhe escrevo...



Para Teresa Blount, 1716

Senhora,

Tenho tanta estima por vós, e mais alguma coisa que, fosse eu sujeito formoso, far-lhe-ia muito de bom: mas como as coisas são o que são, o melhor que posso é escrever-lhe uma carta cordata ou um belo discurso. A verdade é que considerando o quanto e o quão abertamente lhe tenho declarado o meu amor por si, estou espantado (e um pouco agastado) que não me tenha proibido a minha correspondência, dizendo-me directamente Não me aborreça!

Não é suficiente, senhora, para a vossa reputação, que tenha as suas mãos imaculada da nódoa de tinta derramada para agradecer um correspondente masculino. Ai de mim! Enquanto o vosso coração consente em encorajar esta dissoluta liberdade de escrever, a senhora não é (de facto, não é) aquilo que tanto gostaria que eu pensasse de si - uma pessoa puritana! Sou vaidoso o suficiente para concluir que (tal como muitos dos meus jovens amigos) o silêncio de uma bela mulher é consentimento, e assim continuo a escrever.

Mas para parecer o mais inocente possível nesta carta, vou-lhe contar as novidades. Pediu-me novidades mil vezes, da primeira vez que me falou, o que alguns podiam interpretar como não esperando nada dos meus lábios; e, na verdade, não é sinal de que dois amantes estejam juntos, o serem tão impertinentes ao ponto de perguntar novas do mundo. O que eu quero dizer é que vós ou eu não estamos apaixonados um pelo outro. Deixo-a adivinhar qual dos dois é essa criatura estúpida e insensível, tão cega perante a perfeição e o encanto do outro.

Alexander Pope (1688 - 1744)


O brilhante Alexander Pope foi um poeta, ensaísta, satirista, desenhador de jardins, conhecedor de arte, escritor de cartas e pessoa de espírito. Arrastou-se pela vida com pouca saúde, dizia-se por gastar demasiado tempo com os seus livros, mas de facto tinha tuberculose óssea, contraída na infância, que o deixou enfezado, aleijado e atormentado por diversas maleitas. Suscitou muitas inimizades, mas também um largo círculo de amigos. Gostava da companhia das damas e possuía um enorme charme, mas embora as mulheres gostassem da sua atenção e inteligência, os seus sentimentos profundos nunca eram retribuídos.
Duas irmãs, Martha e Teresa Blount, eram amigas especiais, e correspondeu-se com ambas, escrevendo a certa altura a Teresa: "A minha violenta paixão pelo vosso ser e pela vossa irmã divide-se, e com a mais maravilhosa regularidade no mundo. Desde a minha infância que tenho estado apaixonado, ora por uma ora por outra, semana após semana" Pope nunca se casou, e Martha foi herdeira dos seus bens.
Seguem-se quatro cartas: uma para cada das irmãs Blount, e duas para Lady Mary Wortley Montagu, outra amiga íntima, casada com um diplomata e vivendo em Constantinopla.

segunda-feira, 19 de abril de 2010


A Vida e a Morte

O que é a vida e a morte

Aquella infernal enimiga

A vida é o sorriso

E a morte da vida a guarida



A morte tem os desgostos

A vida tem os felises

A cova tem as tristezas

I a vida tem as raizes



A vida e a morte são

O sorriso lisongeiro

E o amor tem o navio

E o navio o marinheiro




Auctora Florbella Espanca

Em 11-11-903

Com 8 annos d'Idade



(Florbela Espanca, «Esparsos», in «Poesia Completa»)

domingo, 18 de abril de 2010

Peter Steele, 1962 - 2010


"Base not your joy upon the deeds of others, for what is given can be taken away."

"Não baseies a tua alegria nos feitos dos outros, pois o que te é dado pode ser tirado."

(Peter Steele)


quinta-feira, 15 de abril de 2010



R.I.P Peter Steele

Type O Negative Love You to Death



Uma grande perda no mundo da música, Peter Steele Forever!!

sábado, 3 de abril de 2010



Um velho índio estava a falar com o seu neto e contava-lhe:
"Sinto-me como se tivesse dois lobos lutando no meu coração.
Um é um lobo irritado, violento e vingativo.
O outro está cheio de amor e compaixão."



O neto perguntou:
"Avô, diga-me, qual dos dois ganhará a luta no seu coração?"

O avô respondeu:
"Aquele que eu alimente."

(Autor Desconhecido)