terça-feira, 17 de março de 2009
Madrigal Melancólico
"O que eu adoro em ti,
Não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.
A beleza é um conceito.
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
Mas pelo que há nela de fragilidade e
de incerteza.
O que eu adoro em ti,
Não é a tua inteligência.
Não é o teu espírito sutil,
Tão ágil e luminoso,
Ave solta no céu matinal da montanha.
Nem a tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.
O que eu adoro em ti,
Não é a tua graça musical,
Sucessiva e renovada a cada momento,
Graça aérea como o teu próprio pensamento,
Graça que pertuba e satisfaz.
O que eu adoro em ti,
Não é a mãe que perdi,
Não é a irmã que já perdi,
e meu pai.
O que eu adoro em tua natureza,
Não éo profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
O que eu adoro em ti.
Lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida.
(Manuel Bandeira)
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