Para Lady Mary Wortley Montagu, Junho de 1717
Senhora,
Se o viver na memória dos outros tem alguma coisa de desejável, é o que tendes, no que me toca, no mais elevado sentido das palavras.
Não há um só dia em que a vossa imagem me não visite; as vossas palavras regressam ao meu pensamento e cada instante, lugar ou ocasião em que me deleitei nelas são vivamente pintados com uma imaginação igualmente afogueada e terna que as possa representar.
Dizeis-me que o prazer de estar perto do sol melhora muito a vossa saúde e ânimo. Vós haveis levado a minha afeição tão para leste que quase posso ser um dos vossos adoradores, porque penso que o sol tem mais razão em se sentir orgulhoso em elevar o vosso ânimo, do que alimentar as plantas e amadurecer todos os minerais da terra.
É minha opinião que um homem sensato possa viajar de boa vontade três ou quatro mil léguas para ver a vossa natureza, e a vossa inteligência, em toda a sua perfeição. O que não imaginar de alguém que viajou pela mais perfeita parte do mundo, e que pelo sol melhora a cada dia na outra! Se vós não escreveis agora contando as melhores coisas imagináveis, podeis dar-vos por satisfeita por ser envolvida pela mesma imputação que o resto do Levante, e concluir que vos haveis abandonado a extremos de efeminação, preguiça e sensualidade da vida...
Por favor, senhora, escrevei-me o mais que puderdes, confiando que não há homem mais sôfrego ou mais ansiosamente atencioso de vós. Dizei-me que estais bem, dizei-me que o vosso filhinho está bem, dizei-me que o mesmo o vosso cão (se tiverdes um) está bem. Não me defraudeis de nenhuma coisa que vos agrade, porque o que quer que seja, agradar-me-á mais do que qualquer outra coisa. Sempre vosso.
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