quarta-feira, 21 de abril de 2010

Carta de Alexander Pope para Martha Blount

Para Martha Blount, 1714

Mui Divina,

É prova de alguma sinceridade para consigo que escrevo enquanto bebendo, e me disponho a falar verdade; e uma carta depois da meia-noite abunda nesse nobre ingrediente. Que o coração deva abundar em chamas, o mesmo tempo aquecido pelo vinho e por si: o vinho acorda e exprime as paixões latentes da mente, tal como o verniz faz às cores escondidas num quadro, e mostra-as no seu brilh natural. As minhas boas qualidades estiveram tão congeladas e fechadas numa constituição apagada nas minhas horas sóbrias, que é muito espantoso, agora que estou ébrio, encontrar em mim tanta virtude.
Neste extravasar do meu coração agradeço-lhe as duas cartas com que me brindou em 18 e 24 deste mês. Aquela que xomeçava com "Meu encantador Sr.Pope" era uma maravilha para além de toda a expressão; vós me conquistastes inteiramente por fim, à vossa encantadora irmã. É verdade que não sois bela, para mulher, penso que não: mas este bom humor e esta ternura são para mim de um charme irresistível. Essa face é irresistível quando adornada pelos vossos sorrisos, mesmo que não veja a coroação! [de Jorge I, em Setembro de 1714]. Suponho que não mostrareis esta carta por vaidade, tal como não duvido que a vossa irmã o faça quando lhe escrevo...



Para Teresa Blount, 1716

Senhora,

Tenho tanta estima por vós, e mais alguma coisa que, fosse eu sujeito formoso, far-lhe-ia muito de bom: mas como as coisas são o que são, o melhor que posso é escrever-lhe uma carta cordata ou um belo discurso. A verdade é que considerando o quanto e o quão abertamente lhe tenho declarado o meu amor por si, estou espantado (e um pouco agastado) que não me tenha proibido a minha correspondência, dizendo-me directamente Não me aborreça!

Não é suficiente, senhora, para a vossa reputação, que tenha as suas mãos imaculada da nódoa de tinta derramada para agradecer um correspondente masculino. Ai de mim! Enquanto o vosso coração consente em encorajar esta dissoluta liberdade de escrever, a senhora não é (de facto, não é) aquilo que tanto gostaria que eu pensasse de si - uma pessoa puritana! Sou vaidoso o suficiente para concluir que (tal como muitos dos meus jovens amigos) o silêncio de uma bela mulher é consentimento, e assim continuo a escrever.

Mas para parecer o mais inocente possível nesta carta, vou-lhe contar as novidades. Pediu-me novidades mil vezes, da primeira vez que me falou, o que alguns podiam interpretar como não esperando nada dos meus lábios; e, na verdade, não é sinal de que dois amantes estejam juntos, o serem tão impertinentes ao ponto de perguntar novas do mundo. O que eu quero dizer é que vós ou eu não estamos apaixonados um pelo outro. Deixo-a adivinhar qual dos dois é essa criatura estúpida e insensível, tão cega perante a perfeição e o encanto do outro.

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